sexta-feira, 26 de junho de 2015

Mudanças ortográficas e sua repercussão

As mudanças ortográficas da Língua Portuguesa, cuja implantação está prevista para este ano pelo MEC, é um tema polêmico e, portanto, divide a opinião dos especialistas no assunto.
De um lado, estão aqueles que aprovam as alterações, alegando que elas uniformizarão a escrita da Língua Portuguesa, facilitando, assim, a integração dos países signatários do acordo. Além disso, acreditam que elas simplificarão a escrita do idioma.
De fato, há inúmeras diferenças, por exemplo, entre o português do Brasil e o português de Portugal não somente na fala, mas também na escrita. Claro que isso cria algum obstáculo ao intercâmbio cultural, turístico, diplomático e comercial. Por outro lado, a grafia de muitas palavras causa uma dor de cabeça enorme a muita gente, até mesmo àquelas consideradas intelectuais.
Pelas normas ortográficas atuais, o emprego do hífen, por exemplo, é, sem dúvida, altamente complexo. Em alguns casos, ele se torna indispensável – com os prefixos ex-, pós-, vice-, pré- etc. (ex-diretor, pós-guerra, vice-presidente, pré-natal). Noutros, depende do prefixo e da letra inicial do radical que o sucede. Portanto, se forem utilizados os prefixos auto, contra, extra, infra, intra, neo, proto, pseudo, semi, supra, ultra (SACCONI, Luiz Antonio. Nossa Gramática, Teoria e Prática), e a palavra posterior começar com vogal, h, r ou h, obrigatoriamente, se deverá empregá-lo. E isso não é o fim do assunto. Existem outros prefixos e outras regras. Uma dor de cabeça! A reforma que vem aí propõe, entre outras coisas, a extinção do hífen em casos como esses.
De outro lado, encontram-se aqueles que se posicionam contra as mudanças. Eles asseveram que é impossível unificar a Língua Portuguesa – ou qualquer outro idioma – por causa do seu dinamismo natural e peculiaridades regionais. O português do Brasil nunca será o mesmo de Portugal tampouco o das outras ex-colônias lusitanas.
A língua, independentemente de normatizações criadas pelas academias de letras, sofre influência do contexto sociolinguístico, de tal maneira que, no Brasil, por exemplo, há uma variedade de falares. É ilusória, portanto, a crença de que existe apenas uma vertente culta da língua portuguesa, conforme diz Marcos Bagno em seu livro “Preconceito Linguístico” e em “A Língua de Eulália”. Essas variedades – legítimas – estão vinculadas ao regionalismo, ao contexto socioeconômico, ao grau de escolaridade, ao sexo etc. Ora, se em um único país não se pode falar em unidade linguística, o que se dirá de continentes!
            As mudanças ortográficas serão uma realidade em poucos dias e, não obstante as divergências legítimas entre os doutores das letras, os professores de Língua Portuguesa devem estudar o assunto, com profundidade, e, posteriormente, ensinar aos alunos as novas regras da variante culta ou padrão, sem, no entanto, deixar de esclarecer-lhes que a língua é viva e dinâmica, pois está atrelada ao povo e não às normas estabelecidas em gabinetes.

                                                                                               Antônio de Souza Matos

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