quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Os absurdos do último acordo ortográfico


Os absurdos do ultimo acordo ortografico – em especial, os atinentes ao uso do ifen, qe se tornou inteiramente arbitrario, com regras injustificáveis i qe impoem sempre a consulta ao VOLP, ou vocabulario ortografico da lingua portugueza – levaram a uma reasao de parte dos escritores, educadores i da intelligentsia, qe xegou ao climacs com o projeto de nova ortografia, ora no Senado, onde corre a ideia de uma simplificasao cuaze radical.

A baze da reforma consiste na tentativa de fazer corresponder a cada letra o som do fonema qe ela reprezenta. Asim, se o som e “k”, as letras serao sempre “c” ou “q” (i no cazo deste ultimo, dispensado o “u” qe costumava seguilo). Se e “s” (sibilante) será sempre “s”, mesmo cuando se escrevia “ss”, “ç”, “sc”, “xc”, etc.; se o “s” soar como zumbido, usase o “z”. O “ch” vai sempre ser reprezentado por “x” i assim por diante.



O “g” vai ser uzado apenas em palavras como “gato”, “gravata” ou “gerra” (o contrario de paz). Em outras situasoes, devese escrever “jente” ou “jigante”. Jenial, nao? Dezaparese o “h” mudo – sim, omem de Deus! – i some de vez o ifen.

Muitos estão estrilando, axando qe a mudansa e radical demais. Já eu, embora axe uma maluqise, penso qe, se e para avansar nesa trilha absurda – de favoreser a pura pregisa de aprender i ensinar –, tínhamos qe ir mais lonje i eliminar todos os asentos e sinais diacriticos, como estou fazendo neste texto, escrito nos termos da proposta senatorial, acresida de dois outros – ra, ra! – avansos: o ja mensionado fim de todos os asentos, incluído o til, qe asento propriamente dito não e – obrigado, obrigado pelas palmas, senhores dijitadores! –, i um truqezinho para rezolver o conseqente problema de saber cuando se trata de conjusao antigamente grafada com “e”, ou do presente do verbo ser, antes escrito com “é”;  no segundo cazo, pasase a uzar “e”, mas no primeiro, empregasse o “i”, como na lingua catalan.

O problema e qe esa reforma não vai funsionar, seja do jeito que ora esponho, seja como consta do projeto qe corre na Camara Alta do Lejislativo Federal. I esplico por qe: primeiro, alguns fonemas são mesmo enganadores. Ai mesmo, em “mesmo”, esse “s” reprezent –, respondam! I as variasoes regionais de pronuncia? “Txia”, qe “dijia” e oje? Salvo as criansas gauxas, as do resto do Brazil vão tender a escrever “Braziu”...

Aqui no nordeste, vamos grafar “nordexte”, porque xiamos no meio desa palavra. “Cariocax” i “recifensex” vão por “x” no fim de “todox ox pluraix”, porqe e asim qe os pronunsiam. Os paulistas vão grafar “subzidio”... i pelo pais afora vai ser uma luta saber se devese escrever “mininu”, “normau”, “ixto” etc., etc. Vejam qe nem falo da pronuncia de Portugal – onde se pronuncia como “x” o “sc” da antiga “nascer”, por ezemplo – e dos outros paizes luzofonos, porqe a proposta e escluziva do Senado brazileiro...

A reforma se pretende fonetica, mas esta depende muito da prosodia, qe varia demais... Em vez desa luta ingloria, vamos – isso sim – melhorar a educasao no nosso pais. Alegase qe a ortografia vijente e muito difisil, porem muito mais e a do mandarim, i os xinezinhos estão cuaze todos alfabetizados. Na Coreia, cujo alfabeto também não deve ser fasil – ou seria fasiu? – praticamente não a analfabetismo. Faltanos, parece, dipozisao para o trabalho, falta empenho, falta... vergonha! Vamos fazer, então, em vez da ortografica, outra reforma, a da vergonha. Minha proposta: tomala. I na cara!




Por Marcelo Navarro
Membro eleito da Academia Rio-Grandense de Letras (mndantas@uol.com.br)
Correio Braziliense de 2/9/2014.

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