quarta-feira, 9 de dezembro de 2015


Poema de Isabela Bicalho Costa Assis, aluna do Curso Revisão de Texto em Língua Portuguesa.

Felicidade

Ao longo destes anos, aprendi que a felicidade plena só pode ser encontrada em um lugar: dentro de nós mesmos; que ter consciência dos próprios defeitos, saber assumir os erros e agir com humildade traz serenidade; que todas as pessoas têm qualidades admiráveis, mesmo que estas não estejam ao alcance do nosso entendimento; compreendi que família não só é o nosso bem maior, como uma influência direta no modo de ser e pensar de cada um; que os amigos de verdade, mesmo longe, estarão sempre perto e não nos abandonarão. Entendi que cada pessoa tem um encanto, o seu ritmo, um modo de ser, as suas alegrias e angústias, e que a aceitação do que não é mutável torna a vida mais leve.


Autora: Isabela Bicalho Costa Assis
Poema de Isabela Bicalho Costa Assis, aluna do Curso Revisão de Texto em Língua Portuguesa.

Brasília

Não adianta: é a Brasília que eu amo!
Brasília do nordeste; do norte; do sudeste; do sul; do centro oeste e até dela mesma.
Brasília do uai; do batchê; do oxente; do meu; do leite quente; do bichinho; do
putz grila; do ow; do eita; do oxê; do bora logo; do trem; do nóis, vocêsss e
elexxx.
Brasília das pessoas diferentes, mas iguais; dos vários estilos num só lugar;
dos amantes de bicicletas; do "Eduardo e Mônica"; dos funcionários públicos;
dos incontáveis times de futebol; da loucura e da sensatez; da claridade; da
modernidade; da grandeza e do céu azul do azul mais azul que uma vista pode
avistar...
que bom que eu te conheci a tempo.

Autora: Isabela Bicalho Costa Assis

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Revisão de Texto em Língua Portuguesa (PRESENCIAL)

Vem aí nova turma do Curso Revisão de Texto!

Curso Presencial com atividades práticas para desenvolver habilidades de revisão linguística de textos, visando à ampliação de oportunidades profissionais.
Aprenda como revisar um texto usando os recursos que essa técnica exige.
NOVA TURMA DO CURSO REVISÃO DE TEXTO EM LÍNGUA PORTUGUESA!
Data: 14 a 18 de setembro 2015.
Horário: Noturno 18:30 às 22:00
Local: L2 Sul – SGAS Quadra 603 Conjunto C – Brasília DF.
Matrículas até 14/8/2015
  • Um curso a distância O DESAFIO DA REDAÇÃO PROFISSIONAL
  • 20% de DESCONTO
Matrículas até 31/8/2015
  • Um curso a distância O DESAFIO DA REDAÇÃO PROFISSIONAL
  • 10% de DESCONTO
Matrículas até 11/9/2015
  • 10% de desconto
Valor do Curso: R$ 530,00. Parcelado em até 5 vezes no cartão ou 3 vezes no cheque.
Informações: 3218 – 8334 / 3218 – 8349 / 3218 – 8347 orientacao@escolaaberta.com.br  /www.escolaaberta.com.br
Na sede: Brasília DF – L2 Sul – SGAS Quadra 603 Conjunto C.
Material Didático: O material do curso será entregue no decorrer das aulas.
Público-Alvo: Copidesques, Revisores, Assistentes Editoriais, Estudantes de Letras e de Comunicação, Tradutores, Escritores, Bibliotecários, Professores de Língua Portuguesa e demais interessados.
Obs.: Possibilidade de turmas corporativas; órgãos interessados, por favor, solicitar informações no e-mail orientacao@escolaaberta.com.br ou telefone 61 –  3218-8329 /3218-8334
Os interessados poderão ligar ou enviar e-mail para receberem todas as informações do curso.

Conteúdo Programático
A importância do revisor linguístico no contexto editorial
– Perfil do revisor
– Conhecimentos necessários
– Cultura geral
– Conhecimento de línguas estrangeiras
Os limites de intervenção do revisor linguístico, visando ao aprimoramento do texto.
– A atuação do editor de textos
– Atuação do copidesque
– Atuação do revisor
Discussão das principais questões linguísticas (nova ortografia e aspectos gramaticais).
– Principais aspectos morfossintáticos da norma culta
– Linguagens técnicas
Padronização e uniformização de critérios de revisão (ABNT/2011).
– Normas técnicas
– Símbolos utilizados
Aplicação de conhecimentos construídos.
– Prática de revisão de texto de várias áreas para exercitação
Docentes
Maria Teresa Caballero Brügger
Licenciada em Letras, Especialista em Língua Portuguesa e em Docência Superior. Profissional renomada em Programas de Formação de Docentes em nível nacional e internacional. Desenvolve há 35 anos atividades na área educacional pública e privada do Distrito Federal relativas a: docência em Língua Portuguesa na Educação Básica e no Ensino Superior; elaboração de material didático de Língua Portuguesa e de áreas afins; revisão linguística de textos em geral, de documentos técnicos, de obras literárias, de propostas curriculares e orçamentárias, de cursos de graduação e de pós-graduação e redações aplicadas em vestibulares. Atualmente, exerce atividades como Especialista em Assuntos Educacionais.
Magda Maria de Freitas Querino
Licenciada em Letras, Especialista em Docência Superior e Mestre em Linguística pela Universidade de Brasília- UnB. Desenvolve há 40 anos atividades na área educacional pública e privada do Distrito Federal como elaboradora de material didático de Língua Portuguesa e outras áreas afins. Realiza revisão técnica e linguística de textos literários e poéticos para editoras e escritores; documentos técnicos; propostas curriculares e orçamentárias; cursos de graduação e de pós-graduação; e produções diversas no âmbito de empresas públicas e privadas. Possui larga experiência como docente de Língua Portuguesa em Instituições de Educação Básica e de Ensino Superior. Atualmente, como Especialista em Assuntos Educacionais, presta Consultoria e Assessoramento Técnicos a Estados e Municípios brasileiros e a países da América Latina.

Depoimentos:










quarta-feira, 8 de julho de 2015

Brasil: onde racistas só se surpreendem com o racismo dos outros

Por Djamila Ribeiro

Como foi bastante divulgado durante a semana, Maria Júlia Coutinho, carinhosamente chamada de Maju, a “garota do tempo” do Jornal Nacional, foi alvo de comentários racistas nas redes sociais. Rapidamente criaram-se campanhas de apoio a ela, pessoas manifestaram-se contra o episódio e a hashtag Somos todas Maju liderou o trend topics do twitter.

Obviamente que me solidarizo com Maju, como mulher negra que se coloca, sei o que é receber ofensas nas redes sociais de pessoas sem noção. Porém, o que me intriga é a falta de criticidade de muitas pessoas que se solidarizaram.

Quando vi algumas pessoas da minha rede de amigos ficarem surpresos com as ofensas, minha vontade foi dizer: queridinhos, é a mesma coisa que vocês faziam comigo na escola, lembram? Lembram meninos, que vocês corriam de mim na época da festa junina dizendo categoricamente: “não vou dançar com a neguinha?” Quase escrevi para um colega que estava revoltado se ele lembrava de ter ficado surpreso ao saber que eu fazia mestrado em Filosofia Política e falava outros idiomas quando me conheceu: “Nossa, você é inteligente mesmo, se fosse loira seria um fenômeno”.

Aos que dizem “em pleno século XXI e isso ainda acontece, falta conhecimento da história do Brasil, de que esse País foi fundado no racismo, é estrutural. Eu fico surpresa com a "surpresa" dessas pessoas. Como eu sempre digo, não precisa ler Franz Fanon, basta ligar a TV. Num país com 52% de população negra, por que essas mesmas pessoas não se surpreendem com a ausência de negros na TV? Por que não criam uma campanha chamada Por uma TV Menos Eurocêntrica, por exemplo?

Quem trabalha com educação e ficou indignado está trabalhando com a Lei 10639? Trata-se de uma lei de 2003, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação e obriga a inclusão do ensino da história de África e afrobrasileira na escola. Interrompem a aula quando um aluno faz ofensas racistas a outro ou diz que isso é brincadeira e não faz nada? Quem é empregador, contrata profissionais negrOs? É urgente que pessoas brancas discutam racismo pelo viés da branquitude, que se questionem, Que reflitam e perguntem a si mesmas: quantas vezes eu contribui com a baixa estima da minha amiga negra ao fazer piadas sobre o cabelo dela? Quantas vezes eu tentei destruir o sonho de uma pessoa negra por achar que a filha da minha empregada negra não podia fazer faculdade com meu filho e sim servir minhas próximas gerações? Quantas vezes eu naturalizei que mulheres negras deviam me servir em vez de entender que elas são empurradas a esses empregos por conta do racismo e machismo estrutural?

Sem esses questionamentos não serve de nada mostrar indignação. De campanhas que não mexem nas estruturas e não se questiona privilégios já estamos fartas. Não adianta se revoltar com as ofensas que Maju sofreu julgando que essas são coisas isoladas, que só acontecem às vezes, quando o racismo é uma realidade para a qual muitos fecham os olhos.

Não adianta se incomodar com essas ofensas e ser contra as cotas, ser fã do descerebrado do Gentilli, chamar militantes de vitimistas quando apontam racismo. Ou ainda ser a favor da redução da maioridade penal quando se sabe que essa só vai encarcerar jovens negros porque se julga que jovens brancos ricos ou de classe média são aqueles que de boa família que cometeram um erro.

Não dá pra ter indignação seletiva, revoltar-se com o que aconteceu com a jornalista, mas calar-se quando é com o porteiro, com o menino da periferia.

No Brasil, até quem se coloca contra certas atitudes racistas não sabe ou finge não saber como o racismo age. Racismo é um sistema de opressão que nega direitos, vai além de ofensas. Como diz Kabengele Munanga: “O racismo é um crime perfeito no Brasil, porque quem o comete acha que a culpa está na própria vítima, além do mais destrói a consciência dos cidadãos brasileiros sobre a questão racial. Nesse sentido é um crime perfeito”.

Toda solidariedade a Maju e toda indignação perante a hipocrisia. Sim, o Brasil é racista e o ódio racial contra a população negra existe desde que o primeiro navio negreiro que aqui chegou.


sexta-feira, 26 de junho de 2015

Mudanças ortográficas e sua repercussão

As mudanças ortográficas da Língua Portuguesa, cuja implantação está prevista para este ano pelo MEC, é um tema polêmico e, portanto, divide a opinião dos especialistas no assunto.
De um lado, estão aqueles que aprovam as alterações, alegando que elas uniformizarão a escrita da Língua Portuguesa, facilitando, assim, a integração dos países signatários do acordo. Além disso, acreditam que elas simplificarão a escrita do idioma.
De fato, há inúmeras diferenças, por exemplo, entre o português do Brasil e o português de Portugal não somente na fala, mas também na escrita. Claro que isso cria algum obstáculo ao intercâmbio cultural, turístico, diplomático e comercial. Por outro lado, a grafia de muitas palavras causa uma dor de cabeça enorme a muita gente, até mesmo àquelas consideradas intelectuais.
Pelas normas ortográficas atuais, o emprego do hífen, por exemplo, é, sem dúvida, altamente complexo. Em alguns casos, ele se torna indispensável – com os prefixos ex-, pós-, vice-, pré- etc. (ex-diretor, pós-guerra, vice-presidente, pré-natal). Noutros, depende do prefixo e da letra inicial do radical que o sucede. Portanto, se forem utilizados os prefixos auto, contra, extra, infra, intra, neo, proto, pseudo, semi, supra, ultra (SACCONI, Luiz Antonio. Nossa Gramática, Teoria e Prática), e a palavra posterior começar com vogal, h, r ou h, obrigatoriamente, se deverá empregá-lo. E isso não é o fim do assunto. Existem outros prefixos e outras regras. Uma dor de cabeça! A reforma que vem aí propõe, entre outras coisas, a extinção do hífen em casos como esses.
De outro lado, encontram-se aqueles que se posicionam contra as mudanças. Eles asseveram que é impossível unificar a Língua Portuguesa – ou qualquer outro idioma – por causa do seu dinamismo natural e peculiaridades regionais. O português do Brasil nunca será o mesmo de Portugal tampouco o das outras ex-colônias lusitanas.
A língua, independentemente de normatizações criadas pelas academias de letras, sofre influência do contexto sociolinguístico, de tal maneira que, no Brasil, por exemplo, há uma variedade de falares. É ilusória, portanto, a crença de que existe apenas uma vertente culta da língua portuguesa, conforme diz Marcos Bagno em seu livro “Preconceito Linguístico” e em “A Língua de Eulália”. Essas variedades – legítimas – estão vinculadas ao regionalismo, ao contexto socioeconômico, ao grau de escolaridade, ao sexo etc. Ora, se em um único país não se pode falar em unidade linguística, o que se dirá de continentes!
            As mudanças ortográficas serão uma realidade em poucos dias e, não obstante as divergências legítimas entre os doutores das letras, os professores de Língua Portuguesa devem estudar o assunto, com profundidade, e, posteriormente, ensinar aos alunos as novas regras da variante culta ou padrão, sem, no entanto, deixar de esclarecer-lhes que a língua é viva e dinâmica, pois está atrelada ao povo e não às normas estabelecidas em gabinetes.

                                                                                               Antônio de Souza Matos

sexta-feira, 19 de junho de 2015

A Língua dos Poderosos

Por que é tão difícil para aqueles que nasceram em famílias mais humildes dominar o chamado português culto? Com certeza não é porque são menos inteligentes, mas porque nasceram e convivem num ambiente em que essa língua não é real.
O linguista Marcos Bagno, em seu livro Preconceito Linguístico, mostra que a língua receitada pela gramática normativa é uma imposição das elites dominantes do País. Ela não foi escolhida como língua padrão por acaso. Aqueles que têm a hegemonia no campo político e econômico, por uma questão de puxar brasa para sua sardinha, a privilegiaram em detrimento dos diversos e legítimos falares brasileiros.
Existem inúmeras variedades da língua portuguesa no Brasil – todas legítimas e corretas do ponto de vista sociológico e funcional. Portanto, não há, como alguns advogam, supremacia de uma variedade como o chamado português culto ou língua padrão.
A internalização da ideia de que a língua da gramática normativa é única contribui para o aumento da sensação de pequenez por quem não nasceu em berço de ouro. Por isso, muitos se dizem “burros” e, portanto, sentem-se incapazes na hora de expressar o pensamento com medo de ser criticados e rotulados de ignorantes.
O ex-presidente Lula provou que competência para governar não está atrelada ao domínio da língua culta. A capacidade intelectual do ex-operário do setor metalúrgico que ascendeu ao principal posto do País derruba a tese de que apenas quem fala a língua socialmente valorizada está apto a dirigir uma nação. O presidente, usando o seu próprio português, tão rico quanto o outro, conquistou os plebeus e até mesmo uma parcela dos nobres, falando de igual para igual com a maioria do povo brasileiro.
É mais fácil, para quem nasceu num contexto privilegiado, dominar a sintaxe da língua culta, visto que, desde a mais tenra idade, vivenciou essa variedade no ambiente doméstico. Se uma criança da periferia ou da roça tivesse nascido em contexto semelhante, obviamente a sua língua natural seria outra e teria mais facilidade de aprender as nuances mais complexas da língua culta nas aulas de Português.
Por mais que alguém se orgulhe de saber empregar com maestria a morfossintaxe da língua padrão, nunca a dominará por completo, considerando que se trata de uma língua ideal, não de uma língua real, conforme o renomado linguista Sausurre demonstrou em meados do século XX.
A língua não é estática, como prescrevem os gramáticos. Ela varia de acordo com a época, a idade, o sexo, o grau de escolaridade e o contexto geográfico, econômico e social, e assim por diante. Por isso, é impossível haver homogeneidade linguística entre os falantes. Não dá para afinar todo mundo pelo mesmo diapasão, tampouco engessar o idioma, “última flor do Lácio, inculta e bela”.
Apesar dessa diversidade, cada falante, sobretudo os que vivem da comunicação e do ensino da língua, deve se empenhar para dominar o maior número possível de falares, a fim de adequar-se aos diversos contextos sociais. Nada justifica o comodismo e a preguiça.
Não se pode prescindir do estudo sistemático da língua padrão, por mais alienígena que seja para a maioria dos brasileiros, considerando não somente o seu valor social, mas também a necessidade de ombrear com os detentores do poder, que ditam as regras do jogo político, social e econômico, a fim de não se manter oprimido, discriminado e excluído.
Numa sociedade capitalista e neoliberal como a nossa, tudo é planejado para manter o status quo de uma oligarquia que mantém as rédeas do poder. Ninguém consegue, por exemplo, passar no concurso para auditor da Receita Federal, se não conhecer muito bem a gramática normativa. A mesma coisa ocorre nos vestibulares para os cursos mais prestigiados, como Direito e Medicina.
Para alguém das minorias obter, por exemplo, uma formação igual à do ministro Joaquim Barboza, ex-presidente eleito do Supremo Tribunal Federal, é preciso muito esforço pessoal, muito estudo, muita perseverança, tudo isso associado ao saber aproveitar as oportunidades.
É pura ignorância discriminar alguém por causa do não domínio da chamada língua padrão ou norma culta. No entanto, cada um de nós deveria se preocupar em aprender bem essa variedade, sem menosprezar as outras, pois disso depende uma boa convivência social.


                                                                                            Antônio de Souza Matos

quarta-feira, 10 de junho de 2015

A Última Flor do Lácio

“Flor Lácio”, assim era tratada a Língua Portuguesa por um de seus maiores autores, Olavo Bilac.   As flores representavam as línguas neolatinas daquela região, Lácio. E a língua portuguesa foi a última a ser estruturada, já no século XVI, por Camões.

Desde então, muito se tem dito e escrito em prosa e verso e melodia. Quantas palavras vazias, significativas e vividas são expressas! Palavras que despertam emoções e sentimentos por ela traduzidos. Sem falar naquelas que só existem em sua essência, como “saudade”.

Assim como tantos declamadores, escritores e cantores, Caetano não resistiu  aos seus encantos: “Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões”; “Minha pátria é minha língua”. Mas muitos, atualmente, não parecem comungar a mesma admiração. Preferem outros idiomas, como o inglês de Shakespeare, o francês de Saint-Exupéry, o italiano de Alighieri, o espanhol de Cervantes, o russo de Tolstoi, o alemão de Von Goethe...

E a língua portuguesa vai aparando as arestas que lhe são impostas pelos incultos, pelos apressados, pelos desfavorecidos. Segue malfalada, maltratada pelos incautos, desvalorizada, mas consciente de seu poder perante a nação. Por isso nada mais justo que existir um dia dedicado a  ela – 10 de junho. 


Vale uma reflexão sobre a importância de conhecê-la com mais profundidade e por que não uma reverência a sua austeridade.

                                                                                                                   Maria Teresa 

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Da Palmatória ao “É Proibido Proibir”

Por Antonio de Souza Matos

Não há como contestar que o índice de indisciplina cresce nas escolas de todo o País, diminuindo o nível de aprendizagem e causando transtornos mentais tanto em alunos quanto em professores. O principal motivo desse fenômeno é, sem dúvida alguma, a ausência de limites em casa.
Os pais saíram de um extremo para outro. Antes as regras eram rígidas e inegociáveis. A criança, o adolescente e o jovem não tinham voz. Não podiam discordar; simplesmente obedecer. Se transgredissem, sofriam as penalidades: não raro, duras, cruéis e até mesmo desumanas.
Havia pais que punham os filhos de joelhos em cima de caroços de milho durante horas; outros que os torturavam com chicotes, cinturões ou palmatórias; outros ainda que chegavam a bater-lhes com qualquer coisa que estivesse ao alcance da mão: pedaços de mangueira, ferramentas, paus e até coisas pontiagudas.
Com certeza, essa forma autoritária e despótica de impor limites não era apropriada, pois deixava marcas indeléveis tanto no físico quanto na alma dos filhos, prejudicando o seu desenvolvimento psicossocial.
Por causa disso e de outros desmandos cometidos por autoridades, iniciou-se um processo, em todo o mundo, na década de sessenta, com o Movimento Hippie, de luta contra qualquer tipo de regra ou convenção social. Os mentores desse movimento tinham em vista estabelecer uma nova ordem mundial, na qual a geração jovem pudesse fazer o que bem entendesse: desde a prática do sexo livre até o uso de entorpecentes.
A semente lançada naquela época brotou, fez-se uma gigantesca árvore e está dando frutos. Hoje, no final da primeira década do século XXI, o ideal da ausência de limites se consolidou, e isso pode ser visto na maioria dos lares brasileiros – a começar pela mudança do conceito tradicional de família.
Em nome de uma suposta liberdade, pais já não conseguem dizer não aos filhos. Assim, estes crescem como pequenos ditadores, altamente egoístas, mesquinhos e intolerantes com aqueles que se colocam em seu caminho, exigindo-lhes qualquer tipo de obediência.
Na escola, não aceitam fazer as atividades pedagógicas. Pelo contrário, decidem brincar ao celular ou simplesmente bater-papo com os colegas. Opõem-se às cobranças dos mestres e às retaliações por atitudes de indisciplina. Consideram os professores como inimigos ao invés de enxergá-los como parceiros na construção do conhecimento e na superação de eventuais deficiências de aprendizagem.
É claro que os pais de antigamente não estavam certos em impor limites daquela maneira, mas os pais de hoje também não estão certos ao abdicarem da sua responsabilidade de educar os filhos, deixando de estabelecer regras claras de convivência social. Algo precisa ser feito com urgência para restabelecer a disciplina tanto em casa quanto na escola, senão é imprevisível o que acontecerá às futuras gerações.


sexta-feira, 8 de maio de 2015

Magistério, uma Profissão em Declínio

Por que diminui o número de jovens interessados em cursar uma licenciatura e dedicar-se ao magistério, conforme diz a revista Época (14/4/2008, p.72)? A resposta é óbvia: a desvalorização do professor, sobretudo no Brasil, cresce paulatina e sistematicamente.
A remuneração é desanimadora para quem deseja ingressar na carreira do magistério. O maior salário inicial para nível superior, no Brasil, é de R$ 2.268,00 (30 horas semanais – Acre) e o menor, de R$ 599,00 (30 horas semanais – Pernambuco). São Paulo, o Estado mais rico da federação, paga R$ 1.660,00 (30 horas semanais). Roraima oferece R$ 1.547,74 de vencimento inicial, cuja remuneração vai para R$ 2.105,00 com a GID (Gratificação de Incentivo à Docência). No final da carreira, as gratificações desaparecem e o professor, que dedicou sua vida à educação, se torna um mendigo.
Com o recente reajuste dado pelo Governo do Estado de Roraima a técnicos de nível superior, a distância entre o professor e esses profissionais, em termos de remuneração, aumentou vertiginosamente. Quem vai almejar uma carreira que não deslancha nunca? Quando se fala em aumento salarial para professor, leva-se em consideração o inchaço na folha de pagamento, porque o número de professores é sempre bem maior que o de outros profissionais. É o mesmo que ocorre com os aposentados que ganham salário-mínimo.
O Plano de Carreira do Magistério Público do Estado de Roraima não estimula ninguém que almeje passar o resto da vida se dedicando ao ensino. A diferença salarial entre o iniciante da carreira e aquele que está na reta final é insignificante. Se um professor, por exemplo, terminar um doutorado hoje, receberá, na ativa, R$ 3.661,94. Sem direito a qualquer ascensão daí para a frente.
Com raríssimas exceções, apenas jovens das classes marginalizadas resolvem abraçar a carreira do magistério, por falta de condições socioeconômicas e até de preparo acadêmico para competir, em outras áreas mais promissoras, com os filhos dos ricos no vestibular de uma universidade pública e gratuita.
As condições de trabalho são cada vez mais precárias e as cobranças, maiores. A revista Nova Escola nº. 211 divulga que “cada vez mais professores sofrem com estresse, dores de cabeça, distúrbios de voz e tantos outros problemas”. E por que o professor adoece? Porque a gestão não lhe dá apoio ou suporte extraclasse, os cursos de formação superior pecam no currículo centrado em teorias, falta tempo para estudo e lazer, a indisciplina dos alunos se eleva, as condições físicas e estruturais das escolas pioram, o currículo é defasado e o apoio da sociedade vem diminuindo. Segundo Mary Yale Rodrigues Neves, da Universidade Federal da Paraíba, “a progressiva desqualificação e o não reconhecimento social potencializam o sofrimento dos docentes”. No passado, ser professor era status. Hoje, uma desmoralização.
Circula a informação de que o professor será cobrado por produtividade. Significa dizer que, se ele não conseguir melhorar o desempenho dos seus alunos, poderá até mesmo perder o emprego. Isso seria justo se o professor tivesse as mínimas condições para desenvolver um bom trabalho. Não é o que ocorre de norte a sul do Brasil.
Esses dados explicam por que jovens bem instruídos, competentes, na hora de escolher uma profissão, põem em último lugar o magistério. Não resta dúvida que existe uma orquestração para desestabilizar a educação pública e, por conseguinte, a figura do professor.


quinta-feira, 30 de abril de 2015

Repetir palavras nem sempre é sinal de pobreza de vocabulário

Aprendemos, desde as primeiras letras, que é errado repetir palavras em um texto. No entanto, a repetição, às vezes, é necessária para dar clareza ao enunciado, enfatizar uma ideia, entre outras finalidades estilísticas.  
No livro “Lutar com palavras: coesão e coerência” (2005), Irandé Antunes, doutora em Linguística pela Universidade de Lisboa, mostra-nos que a repetição é um dos procedimentos da reiteração – tipo de relação textual que consiste em retomar um segmento do texto para manter a coesão e a coerência. Segundo a autora, a repetição pode se dar pelos seguintes recursos: paráfrase, paralelismo e repetição propriamente dita.
A paráfrase é “uma operação de reformulação, de dizer o mesmo de outro jeito”. É empregada para esclarecer um conceito, uma informação, uma ideia. Aparece geralmente após expressões como: “isto é”, “ou seja”, “em outras palavras”. 
O paralelismo é “um recurso muito ligado à coordenação de segmentos que apresentam valores sintáticos idênticos”. Em outras palavras, é o emprego de uma estrutura gramatical similar com o propósito de manter uma simetria ou harmonia entre segmentos textuais (note que usei a paráfrase para explicar o paralelismo).
No período composto “É conveniente chegares a tempo e trazeres o relatório pronto”, vê-se o paralelismo, uma vez que, na última oração, o verbo trazer aparece também no infinitivo pessoal, a exemplo do que ocorre na segunda oração – ambas exercem a mesma função sintática, de sujeito da primeira. Haveria a quebra de paralelismo se a frase fosse escrita assim: “É necessário chegares a tempo e que tragas o relatório pronto”.  A última oração, como se pode observar, quebra o paralelismo, pois vem introduzida pela conjunção “que”, e o verbo aparece no presente do subjuntivo: “tragas”.
É comum a quebra do paralelismo em segmentos como este: “Temos de pagar imposto, quer queiramos, quer não”. De um modo geral, escrevemos: “Temos de pagar imposto, quer queiramos ou não”. A quebra, neste caso, se deve à substituição da conjunção coordenativa alternativa “quer” pela conjunção coordenativa alternativa “ou”. É comum também a quebra do paralelismo em segmentos semelhantes a este: “papel desempenhado pelo homem e mulher”. Para mantê-lo, teríamos de escrever: “papel desempenhado pelo homem e pela mulher”.
Já a repetição propriamente dita consiste em retomar uma unidade usada anteriormente – uma palavra, uma sequência de palavras ou até mesmo uma frase inteira. Ela é um recurso do qual não podemos prescindir, pois desempenha algumas funções coesivas relevantes, tais como: marcar a ênfase que se pretende atribuir a um determinado segmento, marcar o contraste entre segmentos, servir como gancho para uma correção e marcar a continuação do tema em foco, conforme se pode ver nos exemplos abaixo:
  “Ninguém deve comprar imóvel sem antes fazer pesquisa. Ninguém.” (Repetição do pronome “ninguém” para dar ênfase à informação da frase anterior). “O problema não está no estudante; o problema está no sistema.” (Repetição do substantivo “problema” para marcar o contraste entre estudante e sistema).   “[...] A organização estava a cargo dos diplomatas, mas Rafael Grecca assumiu-a para promover uma festa popular. Popular?” (Repetição do adjetivo “popular” para corrigir a informação da unidade anterior – todo o período). “Furtei uma flor daquele jardim. O porteiro do edifício cochilava, e eu furtei a flor [...]” (fragmento extraído do poema “História de Flor”, de Carlos Drummond de Andrade). Nesse poema, o autor repete a palavra “flor” cinco vezes, para dar sequência ao tema sobre o qual discorre. Quem ousaria reprová-lo?
Além dos exemplos dados, que tratam da funcionalidade da repetição, diz Irandé, deparamos com uma série de situações em que se torna praticamente impossível não repetir uma palavra. Por exemplo, não é fácil conseguir um substituto para palavras como cooperativismo, comunismo, democracia, pecuária. A autora esclarece que o número de ocorrências das palavras repetidas varia de acordo com uma série de fatores, tais como gênero, intenções e tema.
 Convém ressaltar que a repetição não é um recurso retórico restrito ao texto publicitário ou poético, como alguns pensam. Ela aparece com frequência em vários tipos de texto não literários: editoriais, artigos, relatórios, reportagens, entre outros. 
Assim, não precisamos ficar com essa paranoia de não querer repetir palavras, achando que vamos cometer um crime de lesa-pátria. Mas é bom lembrar que esse recurso só tem valor quando torna o texto mais funcional e mais expressivo.

Professor e revisor de textos. E-mail:matoseluiza@yahoo.com.br